Entrevista , Pedro Lima (Opinião Pública)
Rock no Liceu 1- Podes contar um pouco sobre o começo dos Opinião Pública ? quais as principais influências na altura ?
Pedro Lima - Os OP sao o resultado de um hobby - a musica - que eu e o Carlos Baltasar, o baterista, desenvolvemos desde os nossos 12 anos. De facto, ja tinhamos uma banda (na altura dizia-se conjunto/grupo) ainda antes de sabermos tocar! A medida que a nossa aprendizagem musical se foi fazendo, fomos adicionando/retirando ao nosso projecto os amigos que connosco iam-se interessando/desinteressando por rock. A partir de certa altura (os meus 15/16 anos?), o Carlos Terramoto - voz e guitarras - passou a fazer consistentemente parte desse grupo. O Luis Fialho - baixo - foi o ultimo a entrar, numa altura em que as nossas ideias sobre o que queriamos fazer musicalmente ja andavam muito proximo do projecto OP.
As nossas influencias foram bastante ecleticas e evolutivas com a passagem do tempo. Com 12/13 anos ouvia bastante rock progressivo - genesis, yes, van der graaf generator, king crimson - mas tambem led zeppelin, deep purple, the who, hendrix, lou reed, neil young e claro beatles. Posteriormente, veio o punk e a new wave, com os sex pistols,stranglers, ramones, patti smith, clash, police. e ao mesmo tempo fui descobrindo os stones, com quem aprendi o que era um riff e que me levaram ate aos blues. E um LP que me marcou bastante no final da decada, o manifesto dos roxy music. Mas de uma forma geral ouvia de tudo um pouco, do pop a musica classica.
2- Os OP surgiram juntamente com uma série de outras bandas (o chamado “boom” do Rock Português) , sentiam-se enquadrados nesse movimento , quais as bandas da altura que achavas que tinham qualidade ?
PL - Quando os OP deram o seu primeiro concerto -- ver em baixo -- nao tinha qualquer consciencia da existencia de um boom do rock portugues, talvez porque tivessemos surgido ainda antes do boom. Mas rapidamente foi facil ver que haviam muitas outras bandas que tentavam marcar o seu proprio espaco, tal como nos. As bandas que mais me interessaram nesse periodo foram o Rui Veloso, os GNR (portugal na cee), os street kids, os xutos (ainda muito anti-establishment) e os UHF que eram excelentes nas suas prestacoes ao vivo. E mais tarde os Herois do Mar.
3- O single “Puto da Rua” obteve boa aceitação do público e das rádios , tens alguma ideia de quantas cópias foram vendidas ?
PL - Não faço ideia.
4- Os OP participaram no concurso “Só Rock” no qual foram 2º classificados , lembro-me de ler algumas críticas de vossa parte a esse concurso , podes contar um pouco sobre isso ?
PL - O boom do rock portugues no principio dos anos 80 e, na minha opiniao, um dos simbolos da normalizacao de um pais que tinha vivido decadas de autoritarismo seguidas de um breve periodo de convolucao social em que as preocupacoes politicas ocuparam o centro das atencoes. Com o fim desse processo (o chamado PREC), o pais foi-se aproximando dos outros paises do mundo ocidental, quer economicamente (embora lentamente) quer em termos sociais e culturais. E o rock foi ocupando um pouco o vazio deixado pelas clivagens ideologicas e e tambem o resultado da abertura ao mundo provocada pelo 25 de Abril. Havia tb o impacte dos retornados que traziam habitos sociais diferentes, menos fechados e mais cosmopolitas do que os dos nativos. Uma influencia semelhante -- sobretudo na provincia -- resultava das emigracoes recentes para Franca e ainda para a Alemanha.
O fim dos OP nao e uma consequencia directa do insucesso comercial do LP, embora seja obvio que se tivessemos vendido milhares de copias tudo teria sido diferente! Mas nos continuavamos a ser bastante solicitados para concertos e nenhum dos 4 membros dos OP dependia economicamente da banda. para mim, contudo, chegou uma altura em que me senti a repetir aquilo que ja tinhamos feito: os mesmos concertos, as mesmas entrevistas, as mesmas musicas.
6- Achas que os Opinião Publica poderiam ter tido uma carreira sólida na música , tal qual uns UHF ou uns Xutos & Pontapés ?
PL - Resposta objectiva: nao, tanto assim que de facto fechamos a loja em 1982.
Pedro Lima.
7- Quais os momentos mais marcantes dos OP ?
PL - 1. O primeiro concerto dos OP, na Aula Magna do Universidade classica de Lisboa. A realizacao de um sonho de puto, ainda para mais com uma recepcao entusiastica, incluindo convites para mais concertos.
8- Existem gravações “perdidas” (demos de ensaios , inéditos) dos OP ?
9- Uma curiosidade , aonde foi tirada a fotografia da capa frontal do single “Puto da Rua” ?
PL - Eu nao sei se ha algum reconhecimento, pensava que os meus filhos e sobrinhos eram os unicos da nova geracao que ja tinham ouvido falar nos OP. Qd um sobrinho me mostrou o site e a cover do puto da rua dos Albert Fish fartei-me de rir, nunca pensei que alguem pegasse num tema dos OP. Gosto da versao deles, sobretudo do som mais punk que eles lhe imprimiram.
PL - Qualquer reconhecimento dos OP em 2009, em Portugal, no resto do mundo ou mesmo em Marte, surpreende-me.
13- Depois dos Opinião Pública , continuaste ligado à música , tiveste outras bandas ?
14- Hoje em dia ainda manténs o contacto com os outros ex. membros dos Opinião Pública ?
PL - Um contacto marcado pela distancia, ja que eu nao vivo em Portugal ha mais de 20 anos. estive com o Carlos Baltasar este Natal, com o Luis Fialho ha uns dois anos. O Terramoto ja nao vejo ha uns bons anitos. Como podes ver, nao estamos propriamente a preparar a comeback tour...
Banda Desenha "Puto da Rua" , Jornal "O Sete" 1982
15- Qual é a tua música favorita dos OP ?
16- Por fim , queres deixar algum comentário ?
PL - Como imaginaras alguns detalhes foram sendo apagados pela passagem do tempo... Confesso no entanto que me deu bastante prazer falar disto tudo tanto tempo depois dos OP terem feito o seu percurso.