da esquerda para a direita: João Azevedo (Baixo); João Braga (Guitarra solo); Paulo Braga (Guitarra); Carlos Costa (Bateria ); Nuno Ludovice (teclas e voz); Paulo Ferreira(Guitarra)
O Boom do rock Português foi um fenómeno musical, que teve o seu tempo, pode-se questionar a qualidade musical produzida nesses tempos, mas é inquestionável a importância que teve na música portuguesa.
Uma das bandas que surgiu do Boom Rock Português, foram os Brigada do Reumático, banda desconhecida para a maioria, que deixou para a história um single em 1982, "Bebedeira Colossal", single que já foi aqui falado no blog.
Hoje publico uma entrevista em exclusivo para o Blog, com o vocalista e compositor, Nuno Ludovice, a quem desde já agradeço a disponibilidade na realização da entrevista.
1- Como introdução, podes contar um pouco sobre o começo do grupo Brigada do Reumático? Um dado curioso nos BR era o facto de terem 3 guitarristas.
Nuno Ludovice - No princípio dos anos 80 houve um grande entusiasmo no então chamado movimento do rock português, em grande parte fomentado pelo programa das tardes da Rádio Comercial intitulado "Rock em Stock " da responsabilidade de Luís Filipe Barros. O "Rock em Stock", para além da divulgação da música internacional, começou igualmente a divulgar o denominado rock português, destacando-se grupos então na linha do chamado “Rock Progressivo”, como eram o caso dos Tantra, os Ananga Ranga, os “Salada de Frutas” entre outros.
No início dos anos 80, aparecem o Rui Veloso e os UHF, seguindo-se depois inúmeras bandas como os Trovante, GNR, Táxi, Heróis do Mar, entre outras. Foi portanto neste contexto que se deu a formação da Brigada do Reumático no início dos anos 80. A oportunidade para o lançamento público da banda surgiu na sequência do lançamento do Festival “Só Rock”, iniciativa da responsabilidade da Rádio Comercial, tendo-se realizado a sua primeira eliminatória a 2 de Maio de 1981.
Não obstante não ter-mos conseguido chegar à final, a nossa participação permitiu a visibilidade suficiente para a banda vir a ser objecto de interesse por parte da editora Promusix, onde juntamente com o nosso grupo, viriam também a lá a ser editados os discos dos Pedra d'Hera (álbuns em 1982 e 1984) e Gonzaga, todos produzidos pelo técnico de som Fioteio Dias (Filo).O facto do grupo integrar três guitarras, constituiu, na minha óptica, uma das mais valias para a consistência e amplitude harmónica que se pode depreender nos registos que foram gravados no único single editado, com as musicas “bebedeira colossal” e “pai da aviação”, respectivamente lado A e B.
O papel do guitarrista “solo” João Braga na produção das linhas rítmicas e harmónicas das guitarras foi crucial para a criação de uma certa homogeneidade do som final da banda, não só no diálogo estabelecido entre as guitarras, mas igualmente na sua integração com os outros instrumentos.
2- Quais foram as influências musicais mais importantes para os BR ?
Nuno Ludovice - As influências eram múltiplas no amplo universo de diversidade de grandes bandas internacionais existentes, muitas delas já vindo dos anos 70 e, naturalmente outras já formadas nos anos 80. Enquanto compositor da banda, e falando num registo mais pessoal, no meu universo de referências poderei referenciar os Génesis, Camel, Supertramp, Dire Straits, Steve Winwood, Tubes, já nos anos 80 destacaria os Foreigner, Marillion, Prefabsprout, entre tantos outros.
3- Musicalmente como definirias o som dos BR ? Para quem conhece o single, achas que as músicas gravadas nesse single são a melhor amostra do que os BR fizeram na altura?
NL - As músicas que foram gravadas na altura procuravam responder a um registo de compromisso entre algumas referências das bandas atrás referidas. Paralelamente procurava-mos que as mesmas fossem dançáveis. Julgo que essas duas perspectivas se podem encontrar nas duas músicas gravadas, cujo registo final me parece não ter sido, para o melhor e para o pior, estereotipado, ou dito comercial.
4- Como é que surgiu a possibilidade de editarem o single em 1982? A Promusix editou alguma música Portuguesa, tudo bandas desconhecidas para a maioria, a relação banda-editora era a ideal?
NL - (Uma parte desta pergunta já se encontra respondida na pergunta 1).
A relação entre a banda e editora não foi infelizmente a melhor, sobretudo no processo de prensagem do disco (então executado sob a responsabilidade da editora Valentim de Carvalho), cujo resultado ficou muito sofrível. Bastará mencionar nas variações de velocidade notórias ao longo do desenrolar dos temas. Não obstante a nossa veemente reclamação, obrigando inclusivamente a editora a proceder a uma segunda prensagem, as falhas detectadas, ainda que minoradas, nunca viriam a ser resolvidas, facto que abalou profundamente a relação existente entre nós e a editora, e que vira a culminar na nossa saída da Promusix.
5- Com a edição do single “Bebedeira Colossal”, existiram expectativas de vossa parte para seguir uma carreira musical? Existiu a possibilidade de serem editados mais singles ou mesmo um álbum?
NL - As expectativas de continuidade em face desta desastrosa experiência, acabariam por se gorar e atendendo a que a maioria dos elementos do grupo já exerciam a sua actividade profissional, pouco, a pouco o entusiasmo foi esmorecendo, acabando por verificar-se a dissolução da banda no ano seguinte.
6 – Qual foi a aceitação por parte das rádios e do público em relação ao single ? Tens alguma ideia de como é que correram as vendas do single ?
NL - A aceitação, não obstante todos os constrangimentos que a produção do single envolveu, não correu nada mal, a avaliar por alguns indicadores que então dispúnhamos.Mas a referida deficiente qualidade na prensagem do single, acabou por constituir um facto fortemente comprometedor.
7 - Os BR chegaram a ter alguma exposição mediática (Programas de TV, entrevistas a jornais.)?
NL - Sim, tivemos apresentações na rádio: Programa “Rock em Stock”, “Passeio dos Alegres”, na televisão no programa “Bom dia Portugal” e realizamos ainda um Teledisco que passou em alguns programas de televisão. Igualmente na imprensa a banda deu algumas entrevistas, nomeadamente no Jornal Sete, entre outros.
8- E em relação a concertos, os BR chegaram a tocar com alguns nomes maiores do Rock Português? Podes contar quais foram os concertos mais marcantes?
NL - A única participação ao vivo ocorreu no âmbito do Festival “Só Rock”, no Jardim da Sereia em Coimbra com uma audiência enorme. Uma experiência inesquecível!
9- Depois dos BR, chegaste a participar em mais alguns projectos musicais?
NL - Sim, mas, como direi, mais para consumo interno.
10- Sentes alguma nostalgia dos tempos dos Brigada Reumático?
NL - Embora tenha sido um tempo algo efémero, como se depreende da pequena história do grupo, ficam sem duvida as saudades de um período muito fértil no plano da musica portuguesa, onde o estimulo para a criatividade era uma constante. Foi com efeito uma conjuntura que muito nos enriqueceu não só no plano artístico, mas também humano.
11- Queres deixar algum comentário final?
NL - Apenas agradecer esta entrevista e o facto de se ter lembrado de nós. Afinal há muito que julgava a BR no “arquivo morto”, e esta foi uma boa oportunidade para revisita-la.