O regresso do blog às entrevistas exclusivas, entrevista a Rogério Gil, mentor da banda "Antigo Testamento". Banda natural da grande Lisboa, editaram um single "Farto" pela independente RCS, em 1981.
1- Quem eram os "Antigo Testamento"? Que
elementos constituíam a banda?
Rogério Gil - A Banda foi criada por mim, que
convenci os restantes elementos a fazermos os “Antigo Testamento”.
A banda era constituída por Rogério Gil guitarra e Voz, João Baião Guitarra, Quimzé
Mateus no baixo e Rui Teixeira na
bateria.
2- Como definiras o som dos "Antigo
Testamento"? Quais foram as suas principais influências?
RG - Um Som mais perto do Hard Rock e as
bandas que nos influenciavam na altura, por ouvirmos muito eram: Deep Purple,
Led Zepellin ,Doors, etc. as bandas Hard Rock da altura.
3- Participaram em muitos concertos? Houve algum
concerto que tenha marcado de forma especial a banda?
RG - Não tocamos em muitos concertos,
apenas uns poucos, tendo em conta os que queríamos dar. Talvez o que nos
tenha dado mais prazer tenha sido, as duas noites no Rock Rendez Vous
e um no palco de Lisboa na festa do avante.
4- Como é que surgiu o contacto para a edição do
single "Farto", editado pela RCS em 1981?
RG - Entramos em contacto com a RCS, o
dono da editora foi ouvir-nos a num ensaio e acabamos por gravar para a editor
RCS.
5- Houve divulgação e promoção ao single? Qual foi
a reacção do público?
RG - A divulgação foi quase
nula, não porque a RCS não se esforçasse, mas porque os meios de divulgação de
musica Portuguesa, apenas divulgavam musica vinda das 3 ou 4 maiores editoras
da altura, o que não era o caso da RCS.
Tenho ideia que o
single chegou apenas a umas centenas de pessoas, que tropeçavam sem querer por
ele, em algumas discotecas (entenda-se, sitio onde se vendiam discos)
Não cheguei a ter uma
ideia clara acerca da opinião das pessoas que ouviam o single, apenas conhecia
a opinião dos amigos, mas essa embora sempre favorável e positiva…. É suspeita.
6- Nos dois temas do single, nota-se que a banda tinha uma
preocupação social. Era essa a temática da maioria das vossas letras? Lembraste
de mais títulos de musicas que tenham feito parte do reportório dos Antigo
Testamento?
RG - Conheci na altura um amigo ( Luís
Rocha) que escrevia letras muito interessantes. De facto falava dos dramas
dele, relativamente ao mau estar causado por viver numa sociedade “Podre”,
violenta… que o atormentava. Trouxe o que ele escrevia ás musicas que eu fazia
e resultou no trabalho dos “Antigo Testamento”.
Quanto aos outros temas, não me
lembro dos títulos, mas eram na minha linha musical. São os únicos registos que
não tenho da minha historia musical…
7- Depois do lançamento do single, a banda tinha intenção de
continuar? Chegaram a pensar editar mais algum disco?
RG - A ideia era Gravar a seguir o álbum,
mas as coisas eram tão difíceis que acabámos por ficar desmotivados, por falta
de oportunidades. Eu por exemplo, a seguir aos Antigo Testamento, estive 2 anos
sem tocar, só depois voltei para não mais parar, aliás penso ser o único musico
da banda em actividade.
8- Após os Antigo testamento, integraste outra banda, os
Apocalipse, pelo que sei era um projecto ambicioso, o que nos podes contar
sobre essa banda?
RG - Assim foi, fui convidado pelo autor
(Luís Mascarenhas) desse projecto fantástico, a ser guitarrista na banda, o
elemento que ele precisava para montar o Projecto. Conhecemo-nos numa loja de
musica em Faro, quando eu queria experimentar um amplificador e uma guitarra
que estava com ele e que por lapso pensei ser da loja.
Foi óptimo, porque ao
que parece, quando comecei a tocar para experimentar o amplificador e a Gibson
SG que era dele, o impressionei bastante, daí ter
surgido de imediato o convite. A musica dos Apocalipse era muito
exigente em termos de execução e não só e o Luís tinha o projecto parado a há
muito tempo, por falta do tal guitarrista. Foi o acaso que nos juntou.
9- Houve mesmo um concerto dos Apocalipse que foi organizado
de propósito para o Steve Harris (Iron Maiden) ?
RG - Assim foi, o Steve Harris teve
conhecimento, através de um Roadie Portuguêschamado Manu da Silva dos Iron Maiden
que tinha vindo para Portugal cuidar dos negócios do Steve, da existência de
uma banda fantástica de Faro (os Apocalipse) e foi na sequencia do interesse
dele para nos ouvir em concerto, que foi agendado o super concerto no teatro
Lethes, um concerto fantástico, de que ainda hoje se fala.
O problema é que os
IronMaiden à ultima da hora tiveram mais uma serie de espectáculos na sequencia
de uma tourné, o que o impossibilitou de nos vir ouvir. Curiosidade Ja mãe do Steve Harris assistiu ao concerto, ele é
que não.
Depois na sequencia disso e porque o Luís recusou uma série de
oportunidades fabulosas entre elas a gravação em Paris do Album, no estúdio
onde gravavam os Trust na altura, a
banda acabou por se desmembrar e o Projecto foi por agua abaixo. O ano passado
falei com os elementos da banda para nos juntarmos de novo e dar seguimento aos
Apocalipse, mas o elemento do costume, acabou por complicar tudo e ficámos no
mesmo, ou seja sem concluir o fabuloso projecto “Apocalipse”…
10- Nos dias de hoje continuas ligado à música? Quais são os
teus projectos actuais?
RG- Claro que sim, musico até sair deste mundo. Entre muitas coisas que fiz
ao longo de todos estes anos, acabei de produzir o EP da banda de Metal
Voidust, a ser lançado no dia 2-2-13 em Cascais e este ano editarei o meu
FridayNight Project, composto por 10 temas instrumentais originais, numa linha
musical diferente, mais próximo do Jazz, onde para alem de ter composto todos
os temas, também toco todos os instrumentos gravados por mim no meu estúdio…
Um
Projecto musical diferente muito interessante, em que apenas me preocupei com o
meu gosto musical no momento em que o criava, longe daquelas tendências parvas
do fazer musica porque a editora gosta assim ou assado…. Ao fim destes anos
todos afirmo, que a fabulosa musica dos anos 80 e a evolução que daí poderia
resultar, foi morta por uma série de gente ligada ás rádios principais deste
País e aos responsáveis por musica nas TV´s que não conhecem uma coisa que se
chama “Paixão pela musica” e muito menos “Bom gosto musical”, sobretudo pelo
que é feito por Portugueses, são tipos que acham que passar umas musiquinhas de
gosto muito duvidoso, cantadas numa língua que a maioria dos Portugueses não
entende, os faz perceber o que quer que seja de musica, mas não!…..enfim, é o
que temos ;).
Quanto a músicos e compositores muito bons em Portugal, sempre
tivemos e haveremos de ter… o problema sempre foi e será, as pessoas que estão
à frente dos meios de divulgação da musica…