sexta-feira, 27 de julho de 2007

Aqui d'el-Rock : a entrevista


Eis a primeira entrevista feita pelo Blog e logo com os Aqui d'el-Rock , os pais do Punk em Portugal , num total de 14 questões. Agradeço aos Aqui d'el Rock a disponiblidade que tiveram para dar a entrevista. Esta será a primeira de muitas entrevista que pretendo fazer , por isso em breve haverá outra entrevista e em principio com outra banda tuga.



P1 - Os Aqui d’el-Rock deixaram um legado importante na música portuguesa, sendo a primeira banda punk a editar um single em Portugal. Sentem que nos dias de hoje há o reconhecimento devido aos Aqui d’el-Rock?

R1 - O projecto Aqui d’el-Rock nunca foi da simpatia da comunicação social. Mesmo na actualidade, os críticos musicais do mainstream tem muita “dificuldade” em perceber e aceitar, a importância desse legado.



P2 - Antes de surgirem com o nome de Aqui d’el-Rock, eram uma banda de rock progressivo. A que se deveu essa mudança do Progressivo para o Punk?

R2 - Isso não foi bem assim. O que aconteceu foi que 3 dos elementos que fundaram os Ad’R já tocavam juntos numa banda que fazia covers. Nessa época em Portugal, era quase impossível fazer originais a não ser que fosse para tocar para uns quantos amigos. Mas a maioria dos temas que se recriavam, nem sequer tinham a ver com esse estilo. Depois e como tínhamos uma vontade enorme de produzir material original e como nos identificámos de imediato com o espírito do movimento punk em Inglaterra, essa mudança aconteceu naturalmente.



P3 - Que bandas influenciaram os Aqui d’el-Rock?

R3 - Logo no início, cada elemento punha no trabalho de conjunto aquilo que haviam sido as suas influências e referências pessoais de uma forma muita básica e sem grandes preocupações com o que se estava a fazer no meio punk. Com o decorrer do tempo, houve uma maior necessidade de nos relacionarmos com o que nos rodeava e aí houve um período em que nos influenciaram bandas como os The Clash, Television, Talking Heads entre muitas outras, ou artistas já consagrados como o David Bowie, Lou Reed, etc.


P4 - Quando surgiram como Aqui d’el-Rock, a palavra “Punk” tinham algum significado para o meio musical Português?

R4 – O significado era idêntico ao de hoje – provocadores que só sabem fazer barulho.
Importância teve muito pouca, até porque o punk teve uma fraca expressão em Portugal.


P5 - Já existiam os Faíscas? Que mais podem contar sobre esses tempos dos primórdios do punk em Portugal?

R5 – Os Faíscas surgiram para aí um dia antes ou dia depois de nós. Nunca se conseguiu apurar o facto com precisão. Algumas das coisas que tínhamos para contar estão já alguma tempo descritas no historial do site dos Ad’R em http://www.aquidelrock.pt/.


P6 - Tocaram muito ao vivo, fizeram inclusive algumas primeiras partes de grupos estrangeiros. Que memórias guardam desses concertos?

R6 – Na maioria foram bons momentos. Nas salas pequenas ou na província, havia um acolhimento e as recepções eram calorosas e frenéticas. Chegávamos a fazer para cima de meia dúzia de encore’s.
Houve no entanto um caso (Lene Lovich, Dramático de Cascais), em que fomos recebidos à tomatada - de acordo com a norma habitual do pessoal que frequentava o espaço para com as bandas lusas, que faziam as primeiras partes de artistas estrangeiros.


P7 - E o concerto com os Eddie & The Hot Rods em 1978 (considerado o primeiro concerto em Portugal de uma banda punk estrangeira) em que fizeram a primeira parte, esse concerto teve algum impacto?

R7 - Teve impacto e teve um mérito, que foi o de forçar a que os organizadores de concertos em Portugal passassem a obrigar os estrangeiros a partilharem o PA com os portugueses, quando estes fizessem as primeiras partes. Nesse espectáculo nós tivemos de alugar o equipamento aos Tantra e o facto de estar tanto material em uso criou grandes problemas.


P8 - Quais os momentos mais marcantes como Aqui d’el-Rock?

R8 - Houve vários, felizmente. Podemos salientar entre outros, as actuações no Brown’s com os Faíscas e os UHF devivo à particularidade do espaço e do ambiente criado. A 1ª parte da Lene Lovich no Infante de Sagres, no Porto, onde tivemos um som impecável - o que era muito difícil de acontecer na altura - e onde o público se entusiasmou ao ponto de obrigar a que tocássemos para lá da meia hora regulamentar para os portugueses, etc, etc.


P9 - O nome dos Aqui d’el-Rock aparece ligado ao mundo Killed by Death (em que existe um coleccionismo fervoroso por bandas punk). Julgam que foi o surgimento dos Ad’R nessas colectâneas KbD que fez renascer o interesse pelos Aqui d’el-Rock?

R9 – Não te sabemos responder. Terá com certeza, contribuído para isso.


P10 - Como é que surgiu o interesse da Rave Up (editora Italiana), em editar o EP dos Aqui d’el-Rock?

R10 – Como é sabido, a Rave-Up é uma editora que se especializou na edição/reedição de discos em vinil de bandas da área do punk da década 70. Por via da Internet, acabamos por ser contactados pelo responsável e o Pier propôs-nos a edição do EP. Naturalmente aceitamos até porque coincidia com o 30º aniversário da fundação do grupo.


P11 - Visto que os discos dos Aqui d’el-Rock quando vão a leilão (Ebay), geralmente acabam nas mãos dos coleccionadores estrangeiros, julgam que o nome dos Aqui d’el-Rock é mais reconhecido no estrangeiro do que em Portugal? A que se deve isso… maior poder de compra ou maior interesse por parte do pessoal lá de fora?

R11 – Com certeza que o interesse de estrangeiros nos Aqui d’el-Rock, prende-se ao peculiar facto de ter havido uma banda portuguesa ligada ao fenómeno punk, a gravar em plena época do seu rebentamento – meados dos anos 70. O poder de compra ajuda muito os que na sua cultura musical têm uma forte ligação ou interesse nesse acontecimento.


P12 - Que bandas portuguesas têm ouvido nos últimos tempos?

R12 – Não temos tido tempo para ouvir o que se faz por cá. Também é verdade que estamos quase que desligados do meio musical português. Estivemos mais de 20 anos afastados e isso fez-nos perder os contactos e as ligações.


P13 - Existem gravações de inéditos dos Aqui d’el-Rock?

R13 – As gravações que existem, pelo menos as do nosso conhecimento, são as que conseguimos recuperar à pouco tempo de umas cassetes encontradas no sótão e que foram captadas em ensaios.


P14 - Projectos para o futuro? Existe a possibilidade de num futuro próximo, de voltarmos a ouvir falar dos Aqui d’el-Rock?

R14 – Se o que queres saber é se os Aqui d’el-Rock voltarão a tocar ou produzir musica, respondemos que não. Tivemos já vários convites para que tal acontecesse, mas recusámos. Os Ad’R tiveram o seu tempo. Não nos faz qualquer sentido, recuperar a sigla apenas para eventualmente ganhar uns cobres, ou para armar figura e aparecer nos media como palhaços.
À cerca de ano e meio, os 3 elementos que formaram o núcleo central dos Ad’R (Fernando, Oscar e Serra), fundaram o projecto “há alma” (http://www.haalma.pt/), onde lentamente e no pouco tempo disponível, se propõe a recriar uma boa parte do tal material que se conseguiu sacar das cassetes de que se falou atrás. É aí que nós pretendemos falar e ligar no futuro, ao passado dos Aqui d’el-Rock.
Aqui d'el-Rock/há alma http://www.aquidelrock.pt/ http://www.haalma.pt/


Um comentário:

Leonel Ventorim disse...

Boa entrevista.
Viva os punks de Alvala...quero dizer Bairro do Relógio.