sábado, 29 de janeiro de 2011

Entrevista: Rui Mareco - Quartzo



Regressam as entrevistas em exclusivo ao blog, desta feita o entrevistado é Rui Mareco, baixista e vocalista da banda Quartzo, a quem agradeço desde já a entrevista concedida.
Os Quartzo foram autores de um único single de 1982 "Cigana de Pedra", já anteriormente aqui falado, single recomendado pelo Blog.


1- Como é que surgiram os Quartzo? Qual era a formação?

Rui Mareco - Os quartzo surgiram em 1979 com o nome de wk (reis da água). Era uma banda sem objectivos e ninguem sabia tocar. Dois dos elementos o Jorge Pita e o zé Cenoura deviam ter 17/18 anos e andavam a aprender a tocar guitarra com o guitarrista dos roquivários em almada.

O baterista, era o Júlio pessoa completamente surda para a musica mas com grande vontade que acabou por sair dando entrada um baterista de nome Tózé Palhota cheio de rítmo e segurança, pessoa dos seus 25 anos.

Eu era um puto de 13 anos, sem dinheiro para comprar uma guitarra e filho de pais muito pimbas e conservadores em que o expoente máximo da música era o José cid, a Candida Branca Flor ou o trio odemira.

2- Quais eram as principais influências musicais da banda?

RM - A banda tinha várias influencias. Em relaçao Ao Jorge e ao Zé Cenoura eram muito duran duran, assiduos dos bailes de DJs na academia Almadense que só começaram a ouvir outros tipos de música quando eu propunha ou mostrava.
O Tózé era muito mais rockeiro,mais filho da noite e o que ele queria era tocar fosse o que fosse. Eu era um puto que adorava ouvir paco de lucia, Zeca Afonso, Supertramp, Pink floyd, Frank zappa e o mais que tudo Police. Morava na Cruz de Pau e acompanhava sempre gente muito mais velha que eu, malta da pesada e amiga.

3- A banda era da Margem Sul, zona de onde surgiram alguns nomes importantes do rock português, UHF, Roquivarios… essas bandas serviram de alguma maneira de impulso aos Quartzo?

RM - Claro, toda a gente queria imitar os UHF. Qualquer banda queria ser como os UHF, falando de pessoal até aos 20 anos. Era uma bitola a meu ver má mas que toda a gente seguia.

Eu porem nunca segui esse rumo, nem na escrita nem na melodia apesar de que quando oiço as musicas Cigana de pedra e o homem de passagem as ache parecidas com os cavalos de corrida ou a rua do carmo. uma das bandas que me influenciou nessa altura foram os "IODO" e os "Xutos"

4- Mas existiram mais bandas provenientes da Margem Sul que passaram despercebidas, lembraste de mais bandas da vossa zona que tivessem um som mais Rock/New Wave ?

RM - Eu fazia sons com outras bandas e conheci bandas boas mas verdade seja dita não me lembro dos nomes. Na maior parte das vezes as bandas nem tinham nome que ficasse pois era só para um ou dois concertos.

5- Li na folha informativa da RCS, que a banda tocava com instrumentos emprestados, foram tempos difíceis para quem fazia música em Portugal?

RM - Eram tempos difíceis pois a musica dava pouco ou nenhum dinheiro a não ser nos bailes que se ganhava mais ou menos. qualquer porcaria custava um balurdio. O meu pai ganhava 40 contos (200€) por mês e tudo custava mais que isso.

6- Editaram o único single pela RCS, como é que surgiu o interesse da editora? Como é que descreves a relação banda / editora, tiveram apoio da editora?

RM - Respondi a um anuncio num jornal e fomos contactados pelo sr. Rio pedindo se era possivel ouvir um concerto exclusivo para nos poder apreciar. A relação banda/editora não existiu. As unicas condições que nos ofereceram foram 4 discos,um para cada um e mais... não me lembro. Sim t.ive que mudar partes das minhas letras pois tinham uma linguagem um pouco impróprias.

Certas partes finais tive que mudar e trocar por fade-out perdendo muito da mensagem das canções. Penso que gravamos na Rádio triunfo das 14h ás 19horas.Depois do disco gravado não ouve qualquer contacto para promoção ou outra coisa parecida para por o disco na rua. Eu penso que o disco nem veio para a rua , apenas veio pelas mãos da banda que comprou 200 discos a um preço mais em conta fora isso, nada sei.

Deixamos de conseguir contactar a editora simplesmente desapareceram e eu sempre fui posto um pouco à parte pois era o mais novo e quase nada me era perguntado. Desinteressei-me completamente por tudo à cerca deste trabalho.






7- Como é que decorreu a gravação do disco, alguma situação caricata?

RM - A gravação correu "rápida e à pressa".Quando eu ouvi o trabalho final no vinil caiu-me tudo ao chão por causa da má qualidade sonoro apresentada. Situações caricatas foram mais que muitas, tipicas de quem não tem experiencia de estúdio. Enchemos o estúdio com colunas enquanto o pessoal do estúdio almoçava.

Quando eles chegaram e viram tudo aquilo ouve risos e algumas gargalhadas dissimuladas. Quando ligamos os aparelhos o ruido era mais que muito e acabamos por fazer a gravaçao directa à mesa. O zé cenoura e o Jorge pita não acertavam uma nas guitarras tendo eu feito todo o trabalho de gravação.

Ao fim tivemos que por o material todo na rua pois estava na hora de outros gravarem e não tinhamos transporte para levar a aparelhagem de volta. Coisas que acontecem...


8- O single teve algum feedback, por parte da imprensa e do público?

RM - Da imprensa nunca ouvi nem li qualquer linha que fosse sobre o single. A unica promoção que fiz foi no programa "manhã-manhã", por mera coincidencia,não sei bem a que rádio pertencia.
Marquei uma entrevista pelo telefone com o sr. Julio Isidro e este recusou-se a receber-me e acabei ocupando um espaço de alguem que faltou no programa "manhã-manhã".

9- Chegaram a pensar editar mais algum single? Lembraste de mais músicas que fizessem parte do reportório dos Quartzo, podes dizer alguns dos títulos das músicas?

RM - Não. Eu tinha muitas musicas e muitas ideias na cabeça mas pouco ou nada fizeram em quase 2 anos para me ajudar ou para evoluir. Eu nessa altura vivia sozinho, só vivia da música e tocava noutras bandas que tocavam musicas minhas.
Nessa altura as minhas músicas não tinham nomes mas sim numeros ou simbolos. Rara era aquela que tinha nome. De momento só me lembro de uma que se chamava "Estrela"



10- A nível de concertos, os Quartzo eram uma banda activa? Tens ideia de quantos concertos deram?

RM - Como Quartzo não fizemos nenhum concerto que eu me lembre. Como "WK" sim em algumas escolas de Almada e em certas associações.

11- Momentos marcantes na carreira dos Quartzo?

RM - Sempre tivemos muitas namoradas.



12- O artigo publicado no blog sobre os Quartzo recebeu boas reacções, achas que os Quartzo poderiam ter algo a dizer dentro do panorama musical?

RM - Adorava dizer-te que sim mas é mentira. Todos os elementos fora eu estavam-se bem borrifando para a música e como disse no princípio da minha entrevista apenas eu e o baterista pusemos lá algum som.

13- Tens alguma sentimento nostálgico em relação ao tempo em que estiveste nos Quartzo?

RM - Fora do campo musical tenho pois foram tempos bons e diferentes, já no campo musical nada zero.

14- Depois dos Quartzo, continuaste ligado à música?

RM - Sempre até hoje e se possivel até morrer. Só me sinto eu nesta área.

15- Algum comentário final ?

RM - Tenho pena do azar que tenho tido no meu Pais. Para viver da música em Portugal é preciso ter nome, dinheiro e ser filho de boa gente. É triste dizer isto mas tenho pena de ter voltado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Merton gostei da entrevista e sem duvida apreciei muito a forma sincera como o Rui Mareco (penso que não deve ser o nome próprio dele, deve ser provávelmente uma alcunha). Se possivel gostava de ver uma fotografia dele. Pelo simples motivo que sou também de Almada, e possivelmente já me teria cruzado várias vezes com ele sem o conhecer !!

Um abraço

Anônimo disse...

conheço bem o mareco namorei com ele e sem duvida uma grande voz podia ter ido mais alem adoro a cançao da estrela faz-me voltar atras no tempo......inesquecivel

Anônimo disse...

rui mareco,ze cenoura,to-ze palhota e jorge pita na altura tambem os conheci pelo nome turma 81. belos tempos.....riscando o ceu passou uma estrela que trazia nela......